sexta-feira, 8 de outubro de 2010

13 jogos do Fluzão - Fluminense 1x0 Flamengo - 1983

Nem aquele dia cinzento de 11 de dezembro de 1983 me desanimava. Era dia de final! Era dia de Maraca. Era dia de Fla x FLU. Era dia de ganhar do maior rival pra colocar a mão na Taça.

Para o FLU só a vitória interessava já que empatara com o Bangu no primeiro jogo do triangular final do cariocão daquele ano. Já o Flamengo ainda jogaria com o Bangu na quarta-feira seguinte. Um empate nos eliminaria.

A manhã parecia que não terminaria nunca. Era uma agonia. Toda hora olhava no relógio. Após o almoço, meu pai chegou sem muita vontade de ir. Ele sempre dissera que jamais me levaria num FlaxFLU porque era muito perigoso. Mas não teve jeito. Falei que eu iria naquele de qualquer jeito, nem que fosse a pé. Fiz cara de cachorro que caiu da mudança e consegui convencê-lo a ir.

O Maracanã estava lindo. Não há jogo mais bonito que FlaxFLU com casa cheia. De um lado eles com a arrogância que lhes é peculiar. Do outro, nós com a beleza, o charme e a classe, típicas dos tricolores. Naquela tarde-noite era mais de 83 mil pessoas no então maior do mundo.

Teve de tudo. Jogaram um urubu em campo e foi um custo para pegá-lo. Aldo o pegou mas foi bicado pelo bicho das trevas. O jogo foi duro, violento as vezes e as melhores chances foram do Flamengo. No intervalo havia uma tensão gigante do lado direito das cabines de rádio. Eu já não tinha unhas pra roer. Comi um Genial e me preparei pra segunda etapa. Meu pai estava mudo e eu, sinceramente, não sei se por causa de raiva por ter ido a um FlaxFLU ou por tensão do jogo ou as duas coisas.

Veio o segundo tempo e pouco mudou. O Flamengo continuava melhor mas o Fluminense havia melhorado depois do intervalo. O tempo passava e a tensão aumentava. Molhados da chuva e tensos. Aos 40 minutos meu pai segurou meu braço e disse:

- Vamos embora. Acabou
- Vou porra nenhuma. Se tu quiser vai sozinho - respondi
- Alexandre, vamos embora. Tô mandando
- Não vou porra nenhuma. Só quando o juiz apitar
- Puta que pariu. Aí além de perder o título vamos correr riscos?
- É. Pior é perder o título

Não me levantei e ele, puto, não parava de falar. Falava tanto que não viu Deley dominar a bola e executar um lançamento que só ele e Gerson souberam fazer. O reclamão não viu Assis dominar a bola livre. Não viu que o bandeirinha continuou correndo. Não viu que Assis ajeitou a bola. Não viu o chute do Carrasco. Não viu a bola passando rente ao corpo do goleiro Raul. Não viu sequer a bola cruzar a linha.



Ele só se ligou com o grito da torcida e com os socos que comecei a dar nele. Sim, espanquei meu pai em comemoração ao gol do título, ao gol do Carrasco, ao gol redentor de um time que parecia fadado a ser desfeito no dia seguinte.

Foi sensacional ver a torcida do Flamengo se calar (gritavam eliminado), enrolar as bandeiras e ir embora enquanto comemorávamos. Chorávamos copiosamente e um senhor mais acima tirou o relógio e o atirou contra a marquise do estádio. Saímos do estádio cantando: SORRIA SORRIA SORRIA PRA CHUCHU QUE O CAMPEÃO É O FLU E O RESTO VAI TOMAR NO CU

Voltei pra casa com aquele sentimento tricolor de ser o melhor do mundo sempre. E naquela noite, eu era!

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