quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Parabéns, Flamengo! Mas é preciso discutir o doping financeiro

A espanholização do futebol brasileiro feita pela rede Globo prejudicará o próprio Flamengo no médio prazo


O Flamengo goleou o Grêmio na segunda partida da semi-final da Libertadores e está classificado para a grande decisão que espero não seja em Santiago. Digo isso porque, se tiver que adiar, significa que o povo chileno segue nas ruas contra o Bolsonaro de lá, contra o projeto criminoso que Pinera impõe ao povo lá e que Bolsonaro começa a impor aqui.


Foto: audienciacaricoa.com.br
Não vou tratar de nenhuma questão tática pois o placar do jogo é muito superior a qualquer análise tática. 5x0 demonstra tamanha superioridade que cabe a qualquer analista apenas buscar as outras questões que levaram a esse tamanho desnível em uma semi-final de torneio continental.

E, deixando de lado o timaço do Flamengo e o trabalho fantástico de Jorge Jesus (que coloca os técnicos brasileiros abaixo do pré-sal), temos que falar do dopping financeiro que a Rede Globo pratica no futebol brasileiro.

Flamengo, bem administrado, e Corinthians, muito mal administrado, recebem mais que o dobro de verba de TV que adversários como Cruzeiro, Botafogo, Fluminense ou Internacional, por exemplo. Isso provoca um desequilibro no produto que a Globo vende que é o Campeonato brasileiro, além de, no médio prazo, desvalorizá-lo pois a tandência é de que, ao menos, 8 grandes clubes saiam da condição de protagonistas do principal campeonato nacional das Américas.

No principal campeonato nacional do mundo, o inglês, não há esse modelo de divisão de cotas de TV. Lá, quem recebe menos dinheiro recebe apenas 37% a menos que o que recebe mais. Isso reflete em maior competitividade, em grandes (Big Six) disputando o título e, eventualmente, um pequeno como Leicester beliscando a taça.

O modelo é muito simples e muito justo:
  • 50% divididos igualmente entre os 20 clubes
  • 25% de acordo com a colocação na temporada
  • 25% de acordo com o número de partidas transmitidas
  • Verba de venda de direitos para exterior dividida igualmente entre os 20 clubes
  • Receitas comerciais divididas igualmente entre os 20 clubes
Com a divisão que a odiosa Rede Globo impõe ao futebol brasileiro, estamos caminhando mais para a La Liga de poucos anos atrás onde a força do dinheiro provocava o revezameto entre Barcelona e Real Madrid, sem nenhuma chance para os outros 18 clubes (ainda não mudou muito pois só o Atletico de Madrid bateu a dupla de gigantes). Pior, como os clubes brasileiros são administrados como se fossem condomínios de terceira, a tendência que o campeonato brasileiro vire uma Ligue 1 não pode ser descartada. O que é ruim para todos, inclusive para o Flamengo.

Verba de TV não é patrocínio e não pode ser dada de acordo com o tamanho da torcida. Verba de TV é para fomentar, valorizar, o produto que a TV usa para conseguir verba publicitária e para venda de pacotes de TV por assinatura. Se há uma diferença tão absurda de verba de TV como há no futebol brasileiro, o produto futebol brasileiro se desvaloriza e é isso que já está acontecendo.

Tão ruim quanto a divisão praticada pela Rede Globo é a passividade e mediocridade de algumas diretorias dos outros clubes. Louve-se a do Athletico que bateu o pé e não assinou o contrato de TV fechada com a Globo e não tem seus jogos transmitidos pelo Premiere. O Palmeiras também bateu o pé mas depois fechou acordo. Mas outros clubes como o Fluminense assinaram com a Globo por causa de luvas que fechariam o balancete no azul. Ou seja, jogou 5  anos da História do clube no ralo para "maquiar" o balanço financeiro do clube.

É nessa onda de pseudo-administradores e da desonesta divisão de cotas que o futebol brasileiro leva o Flamengo a final da Libertadores contra o River Plate. E chega na condição de favoritaço, como diria Arnaldo Ribeiro. Embora bem treinado por Marcelo Gallardo, o River não tem nenhuma chance de vencer mais essa Libertadores. A torcida do Flamengo já pode comemorar e se planejar para o jogo contra o Liverpool, numa revanche após 38 anos.

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