quarta-feira, 1 de maio de 2019

25 anos de um fim de semana de terror

Acordei cedo, como sempre, tomei banho e fui a padaria. Comprei pão, mortadela e um queijo da roça que minha mãe adorava. Indo e voltando da padaria estava ainda atônito pelo que acontecera na sexta-feira e no sábado em San Marino.


Na sexta, trabalhei o dia todo e cheguei a casa por volta das 21h e minha mãe disse: "Você viu o que aconteceu com o Rubinho?". PensRespondi: "qual a merda que ele fez agora?'. E recebi a resposta: "Não, filho. O Rubinho da Fórmula 1". Tomado de surpresa e sem a existência da Internet perguntei o que acontecera e ela me explicou da batida grave do jovem piloto brasileiro e que ele estava internado.

No sábado, assisti a terceira morte ao vivo na Fórmula 1. A primeira foi do Ronnie Peterson, em Monza. A segunda, Ricardo Palletti, no Canadá. E ver Roland Ratzemberger morto no carro da Simtek foi doloroso. O acidente é horroroso. A asa dianeira do carro do austríaco simplesmente se solta antes da curva Villeneuve, rapidíssima , antes da freada para a Tosa.

Ratzemberger foi reto e se quebrou todo na batida a cerca de 315km/h. O carro rodou e ficou claro o buraco na lateral da carenagem. A cabeça do piloto balança para um lado e para o outro e sangue também é visto. Está claro que tinha morrido ali. Treino parado, Senna assistiu ao acidente dos pits e ficou claro o desespero do brasileiro. Então pegou carona no carro de serviço e foi lá ver o trabalho de resgate. A farsa que a Fórmula 1 montou dá conta de que a morte foi 8 minutos depois da chegada do piloto ao hospital Maggiore. Se declarasse que a morte fora na pista, não haveria corrida...

Ao chegar em casa, como em todo domingo de Fórmula 1, tomei café com minha mãe e me preparei para a corrida. Minha saudosa mãe só gostava de ver as largadas e a chegada e me pedia para chamá-la. 

No grid, Senna tirou o capacete e colocou sobre o carro, como fizera outras vezes, mas seu semblante era tenso. Eu também estava tenso com os acidentes de sexta e sábado. Mas pensei "ainda bem que isso nunca vai acontecer com Senna". Afinal, o brasileiro estava em uma grande equipe e nunca a asa dianteira da Williams se soltaria. Sequer me lembrei de Zolder, 1982, quando num 8 de maio, o banco da Ferrari de Gilles Villeneuve se soltou e atirou o canadense nas telas de proteção do outro lado da pista, matando o meu primeiro ídolo na Fórmula 1.


Chamei minha mãe para ver a largada e um tremendo acidente com Pedro Lammy e J.J. Letho projetu pneus e destroços na arquibancada ferindo cerca de 9 pessoas. Mais um susto daquele fim de semana macabro. Safety Car acionado e andou por 5 voltas, retornado aos pits. Senna era líder, schumacher era o segundo. Senna relarga bem e mantem a ponta. Completa a volta e na Tamburello a barra de direção da Williams (equipe grande) se rompe e Ayrton bate a 210 km/h.

Minha reação é apenas dizer "Sai do carro. Sai do carro. Sai do carro". Por que o socorro demora tanto? A cabeça de Senna move e a esperança surge com tudo mas ele não sai do carro. Começa o trabalho de resgate. Desligo a TV, falo com minha mãe que Senna sofreu forte acidente e que ia pra rua pois não aguentava ver aquilo. Começo a vagar pelas ruas do bairro pedindo Deus que o salvasse. Mas, no fundo, eu sabia que, da mesma forma que Ratzenberger, Ayrton tinha morrido na pista, tese confirmada por médica do IML do Hospital Maggiore de Bologna (leia AQUI )

Como tinha um churrasco de 1° de maio na Associação do trabalho, decidi ir pra lá, beber umas várias cervejas e ficar a espera de um milagre. As 13h40min surge a notícia fatal. Ayrton Senna da Silva acabara de morrer em Bologna. Acabara de perder o segundo e maor ídolo que tive no automobillismo. A noite, bêbado, ao chegar a casa, minha mãe preocupada comigo me pergunta se eu já sabia. Nem me lembro o que respondi. Só lhe dei um abraço e chorei.

Vi cada uma de suas 161 corridas, todas as suas 41 vitórias, acompanhei ao vivo ou pela notícia do Jornal Nacional de sabado cada uma das 65 poles. Foi o melhor piloto que vi. Não era santo, nem era o melhor personagem da F1. Piquet era um personagem muito melhor, por exemplo. Mas no volante foi o melhor. Na chuva era quase imbatível. E uma solda mal feita encerrou seus sonhos.

25 anos de saudade de você, Ayrton Senna.

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